Minimal Art

Compreende-se como Minimalismo, uma linguagem estética e artística que se desenvolveu a partir da década de 1950 e 1960, mas que sofreu influências de artistas da primeira metade do século XIX – como Kazimir Malevich e até mesmo Marcelo Duchamp – e que em muito influencia o design contemporâneo. Essa nova percepção da arte e de suas obras surgiu a partir de uma renúncia ao Expressionismo Abstrato de ícones como Jackson Pollock e Arshile Gorky, a partir das pinturas do artista Frank Stella, e ganhou maior visibilidade na escultura com artistas como Donald Judd, Carl Andre, Robert Morris, Dan Flavin, entre outros.

O princípio básico dessa nova arte pode ser resumido na frase “Menos é mais” – que se assemelha ao nome de um dos quadros de Frank Stella: More or Less, de 1964. A crítica que ela faz ao Expressionismo Abstrato se refere aos objetos de representação simbólica, subjetividade e intensidade emocional atribuídos às obras de arte produzidas no período pós-guerra. Nele, percepção e compreensão da obra estão diretamente ligadas à sensibilidade do espectador e uma espécie de “conhecimento prévio” do que está prestes a ser visto. Já com os artistas minimalistas, essas características caem por terra quase completamente – nesse sentido, a palavra “quase” é usada em referência aos elementos geométricos presentes nas esculturas e pinturas, que não deixam de ser objetos de representação, mas que são de conhecimento e compreensão do mais variado tipo de público e espectador. A minimal art é considerada, assim, uma arte “limpa” por desfazer-se dos elementos excessivos no processo de produção, reduzindo a obra de arte a um objeto puro e completamente inteligível, concebido na mente antes de sua produção.

Malcolm’s Bouquet, 1965

Adelante, 1964

 

 

 

 

 

Essas características presentes nas obras desse período podem ser claramente reconhecidas também em outros momentos da história da arte. Kazimir Malevich, por exemplo, pode ser considerado o precursor desse novo conceito ao compartilhar dos mesmos ideais na produção de seu Quadrado preto sobre fundo branco, reduzindo a arte a um símbolo de representação estritamente objetivo e absoluto em si mesmo – características que estarão presentes nos Black Paintings, de Stella. Marcelo Duchamp, com seus ready-mades, foi o primeiro artista a utilizar elementos pré-concebidos para a formação de uma “escultura”, enfatizando a sua obra de arte como objeto concebido primordialmente na mente do artista da mesma forma que Piet Mondrian e seus quadros compostos por linhas retas e cores primárias na década de 1920 – onde estes mesmos princípios podem ser perfeitamente percebidos nas obras dos artistas do período minimalista, principalmente os escultores.

Quadrado-preto-sobre-um-fundo-branco-horz (800x272)

Esteticamente, esse novo movimento trouxe muitas inovações e ao mesmo tempo sofreu duras críticas por sua “técnica” de produção. Na pintura e na escultura, passa-se a utilizar materiais industriais para compor os objetos, como ferro galvanizado, aço laminado a frio, cubos de poliestireno, chapas de cobre, tubos fluorescentes, tinta industrial, concreto e outros tipos de insumos. Além disso, o artista se retira do processo de produção da obra, atuando no papel de idealizador de um projeto, onde a finalização dela como produto é responsabilidade de terceiros. Assim acontece com muitos os escultores da época, como Dan Flavin e suas instalações com lâmpadas fluorescentes – muitas delas concluídas após sua morte – ou Donald Judd e seus Quinze Volumes de Concreto instalados no Texas (EUA), assim com outras de suas esculturas. Um exemplo mais claro dessa ausência do artista é uma obra intitulada Die, de Tony Smith. A obra foi originalmente idealizada em 1962, mas o objeto projetado pelo artista só foi produzido em 1998, após a sua morte, sob uma encomenda da viúva do escultor e arquiteto, e consiste pura e simplesmente em um cubo de aço que hoje está exposto no MoMA, em Nova Iorque. Nesse sentido, a Minimal chegou a não ser considerada como arte, por ser compreendida como uma arte vazia de significado e inovação plástica, pela utilização dos materiais e os objetos trabalhados. Essa crítica passou a ser desconstruída a partir de uma publicação da crítica e historiadora de arte Barbara Rose, esposa de Frank Stella entre 1961 e 1969, intitulada ABC Art, publicada na revista Art In America em Outubro de 1965. Nessa publicação, ela busca explicar o conceito da Minimal Art fazendo uma referência às obras de Duchamp, mas com uma referência mais forte a Malevich e o suprematismo.

Tony Smith, Die, 1962-1998

Tony Smith, Die, 1962-1998

Através de obras de escultores como Sol LeWitt, Carl Andre ou Donald Judd – sem esquecer de outros importantes escultores do período como: Lary Bell, John McCracken e Tony Smith –, podemos perceber também uma relação muito forte com o espaço em que elas se inserem. Nesse contexto, surge o conceito de obra como site-specific, onde o objeto e sua essência são construídos pensados para o espaço em que se alocam. Através dele destacam-se algumas das instalações de Donald Judd, que consistem em caixas de metal devidamente enfileiradas; algumas instaladas nas paredes das galerias, outras organizadas na horizontal, sempre representando uma espécie de produção em série e uma vontade de organizar o espaço seguindo os princípios fundamentais da Gestalt, como continuidade e semelhança, por exemplo. Além disso, as obras de Donald Judd possuem propositalmente um valor funcional, onde algumas delas se assemelham a móveis e essas mesmas obras influenciam bastante o design contemporâneo, seja ele o design de interiores ou até mesmo o design gráfico e seus elementos de composição.

Donald Judd

Donald Judd

Outro importante artista do período foi John McCracken e seu diálogo com o suporte. Escultor, sua carreira foi bastante influenciada pelo pintor abstrato John McLaughlin e sua linguagem artística foi traduzida nos objetos tridimensionais que produzia. Suas obras consistem em pranchas brilhantemente coloridas escoradas na parede das galerias em que ficam expostas. Esse escoramento de certa forma põe em xeque a necessidade de suporte para a escultura, ao mesmo tempo em que utiliza o espaço da galeria como elemento complementar e interage com esse espaço. Uma crítica ao suporte parecida com essa de McCracken pode ser percebida através das obras de Pollock, quando a tela deixa de se apoiar no cavalete e passa a ocupar o chão ou a parede.

250px-Untitled_slab_painting,_resin_and_fiberglass_sculpture_by_John_McCracken,_1981,_Smithsonian_American_Art_Museum

John McCracken

John McCracken

John McCracken

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os conceitos da ABC Art – assim nomeada por Barbara Rose – possuem características estéticas tão fortes que passam a influenciar também outros ramos das artes, como música e dança. Na música, inicia-se uma discussão sobre o que ela é e como ela se forma. Nesse contexto, algumas composições de artistas com Philip Glass utilizam-se de arranjos com poucas notas, acordes simples e muitas repetições, com uma estrutura modular. Na dança, nomes como Yvonne Rainer e Lucinda Childs destacam-se por trabalhar a desconstrução dos movimentos e dos bailarinos em suas coreografias. A primeira procura reduzir o corpo humano aos movimentos que ela julga serem essenciais e primários: ficar de pé, correr e andar, de um modo inexpressivo o suficiente para deixar de lado a presença do bailarino e seu virtuosismo. Suas coreografias – algumas com colaboração do próprio Robert Morris –, mesmo sendo caracterizadas pela crítica de dança como Ballet Moderno, apresentam a mesma linguagem estética e ideal do minimalismo, traduzidas para os movimentos da dança e do que julga ser dança, como a obra coreográfica Carriage Discreteness, composta para 12 intérpretes, onde os dançarinos nada mais fazem além de transportar objetos de material industrial de um lado para o outro do palco, elevando o movimento cotidiano a um movimento de dança. Já Lucinda Childs, mais recentemente, desenvolveu uma técnica ainda mais simplificada, composta por uma série de movimentos repetidos exaustivamente em um palco vazio, de modo a nivelar a presença dos bailarinos no movimento, assemelhando a coreografia a um espetáculo de mímica.

No Brasil, a Minimal também refletiu seus princípios, mas de um modo não menos canônico. No cenário nacional destacam-se artistas como Ana Maria Tavares, com obras como Corrimão (1996) e Desviantes (da série Hieróglifos Sociais, de 2011), Carlos Fajardo – com fortes referências às esculturas de John McCracken e Lary Bell – Fabio Miguez e Carlito Carvalhosa – que chegou a expor uma de suas obras produzidas com tecido TNT no MoMA, em Nova Iorque.

De maior presença nos objetos visuais da vida cotidiana, a publicidade e propaganda e o design gráfico incorporaram certos aspectos do minimalismo, traduzido para sua forma de composição. Os princípios da Gestalt continuam sendo respeitados para reduzir o objeto visual a uma forma de representação com poucos elementos, sem comprometer a sua compreensão da ideia principal pelo grande público que se depara com ela, criando uma nova linguagem estética no campo do design. Reduzindo os excessos da imagem para extrair o que mais chama atenção, utilizando princípios como pregnância, fechamento, unidade e proximidade, além de respeitar os aspectos principais da cor, a imagem se torna um emaranhado de objetos gráficos individuais que toma forma de uma imagem conhecida do público apenas pela sua organização no espaço. Nesse contexto destacam-se artistas/designers como Noma Bar e seus ícones do cinema e da cultura mundial e as cápsulas de Grégorie Guillemin, remetendo a personagens famosos da história.

Charlie Chaplin,, por Noma Bar

Charlie Chaplin, por Noma Bar

Andy Wharol, por Grégorie Guillemin

Andy Wharol, por Grégorie Guillemin

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sendo assim, podemos perceber através da análise desse período de inovações artísticas, estéticas e filosóficas que se estende até os dias atuais, um novo tratamento da arte como obra e sua percepção. A partir das pinturas de Frank Stella – que a partir de meados da década de 1980 passa a abandonar esse estilo, assim como Robert Morris – e suas referências, e a visibilidade adquirida na escultura e no design, a ideia da obra passa a ter mais ênfase que o objeto em si. Nesse sentido, o que se estende ao público e à crítica deixa de ser a técnica aplicada, porque não há necessariamente uma interferência do artista como artesão, e passa a circular como ideia e como intenção, ao mesmo tempo em que possui forte conexão com o espaço e objetividade racional a partir da sua geometria. A partir do minimalismo, a arte abandona seu aspecto emocional e passa a assumir seu lado lógico e puro, porque arte é coisa mental.

Idealizado e escrito por Caio Fidry & Danilo Gabriel

Links úteis:

  • Exemplos musicais de Philip Glass & Steve Reich:




  • Obra coreográfica Trio A, de Yvonne Rainer:

http://www.youtube.com/watch?v=aggv4jybdaY&feature=youtu.be

  • Desviantes (da série Hieróglifos Sociais), Ana Maria Tavares:

    http://vimeo.com/32523355

  • Relações entre Minimalismo e Design Gráfico:
    • Galeria de Cápsulas de Grégoire Guillemin

http://pinterest.com/gregguillemin/famous-capsules/

Bibliografia e embasamento teórico:

Minimalismo. Enciclopédia Itaú Cultural: Artes Visuais. Disponível em <http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=3229>. Acesso em: 10 dez. 2012.

Gestalt. Enciclopédia Itaú Cultural: Artes Visuais. Disponível em <http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=9443>. Acesso em 06 jan. 2013.

Barbara Rose. Wikipedia, the free encyclopedia. Disponível em <http://en.wikipedia.org/wiki/Barbara_Rose>. Acesso em 06 jan. 2013.

Expressionismo Abstrato. Wikipedia, the free encyclopedia. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Expressionismo_abstrato>. Acesso em 06 jan. 2013.

GABLIK, Suzi. Minimalismo. In: STANGOS, Nikos (org). Conceitos de Arte moderna. Rio de Janeiro: Zahar, 1991. p. 174-181.

ARCHER, Michael. O campo expandido. In: ______. Arte contemporânea: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

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