Jenny Holzer: proteja-me do que eu quero

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Nascida em 1950 no estado de Ohio (EUA), Jenny Holzer, uma importante artista contemporânea, iniciou sua produção artística exclusivamente com textos. Mesmo seu trabalho estando totalmente ligado às palavras, ela não foca em produzir literatura, pois suas produções não passam por nenhuma edição. Pelo contrário, são expostas e podem ser lidas por qualquer um. Com as palavras, Holzer pode se comunicar de uma maneira que talvez a pintura não possibilitasse. Quanto ao conteúdo de seus trabalhos, percebemos que possuem forte carga poética, social e política. Abordam temáticas sobre sexo, morte, guerra, feminismo, amor, individualidade, etc. A artista tenta fazer com que os leitores confrontem com frases fortemente simbólicas, já que requerem que o espectador olhe para dentro de si e enfrente seus medos e angústias. Portanto, essas obras interferem claramente no espaço íntimo de cada indivíduo.

Sua primeira criação, chamada Truisms (“Truísmos”), apresenta breves sentenças que provocam um forte impacto no indivíduo que as lê. Foram fixadas em postes, coladas em cabines telefônicas e até impressas em camisetas, com frases como “proteja-me do que eu quero” ou “falta de carisma pode ser fatal”. Em 1977, propõe uma discussão de como a arte é recebida pela sociedade de consumo, tendo em vista a crescente influência dos meios de comunicação de massa. Assim, passa a utilizar locais de comunicação mais imediata com o público, inserindo suas obras em enormes painéis de LED e projeções luminosas pelo cenário urbano para mostrar que sua arte dialoga com a mídia e para acabar com o estereótipo de que o espaço urbano é utilizado apenas para fins publicitários e comerciais.

A maioria dos escritos utilizados por Holzer são de sua autoria, mas a artista também se apropria de frases encontradas em portas de banheiros, anúncios publicitários, placas de caminhão e muitos outros, para depois reproduzi-las com um novo sentido: como arte. Sua produção não é um exercício de linguagem, mas uma reflexão do que a artista sente. Em um depoimento, Holzer confessa que se interessa por coisas simples, regulares e simétricas, e, por seus textos serem incontroláveis, ela opta por organizá-los simetricamente.

As obras de Jenny são também expostas em espaços fechados, que é o caso de uma importante exposição chamada Mother and Child (“Mãe e Filha”), produzida em 1990. Constitui-se de painéis eletrônicos verticais de duas cores, no qual os textos correm em direções opostas, além de frases inseridas no chão e nos bancos espalhados pela exposição. A obra remete ao diálogo entre a sensibilidade e a preocupação de uma mãe com o crescimento de seu filho em um mundo tão violento. É importante ressaltar também que esses textos possuem relação com a vida da artista, já que foram escritos após o nascimento de sua primeira filha.

Outra exposição a ser destacada se chama Lustmord, produzida em 1996, em que Holzer mostra um trabalho mais orgânico, apresentando uma composição de 312 ossos variados com frases inscritas em anéis de prata.

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Em 1998, a artista começa a utilizar a Internet para expôr suas palavras. A partir de uma série chamada Please Change Beliefs (“Por favor, mude suas crenças”), Jenny publica virtualmente várias afirmativas provocantes, como “amar os animais é uma atividade substituta” ou “o assassinato tem seu lado sexual”.

Em sua carreira, Jenny Holzer também visitou o Brasil. A primeira viagem, no ano de 1998, foi para o Rio de Janeiro, onde a artista traduziu seus truísmos para o português. Estes foram estampados em portas de táxis, bancas de jornal, outdoors e em muitas mensagens que espalhou por endereços eletrônicos da cidade. Em 1999, volta ao Rio, utilizando mais uma vez a projeção para exibir seus escritos, mas agora nos locais que servem de cartões postais para a cidade carioca: Arpoador, Pão de Açúcar, Morro da Urca, etc. Nessa segunda viagem, realizou também uma exposição no Centro Cultural Banco do Brasil, com o título de Protect Me From What I Want (“Proteja-me do que eu quero”), na qual são apresentadas varias séries da artista, como a instalação que foi exposta na Bienal de Veneza (Mother and Child), sua série orgânica (Lustmord), uma enorme instalação na cúpula arredondada do CCBB, conferências, projeções nas montanhas do Rio de Janeiro e mostras de vídeo.

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Concluindo, Jenny Holzer tenta mostrar que a arte não se resume em pinturas e esculturas. Vai além disso: as palavras que utiliza expressam significados que cada indivíduo interpreta de maneira diferente, podendo comovê-lo, emocioná-lo ou provocar outras reações nele. E arte é isso. É como nos manifestamos e como nos comportamos ao permanecermos diante de certa criação. E, certamente, as frases de Jenny Holzer, principalmente por envolverem um caráter poético, trazem-nos reflexões sobre diversos assuntos, provocando-nos múltiplas reações.

Por Júlia Graça Bardanachvili

Referências bibliográficas:

– LAMONIER, L. P. J. Publicidade e Artes Plásticas: a utilização da mensagem do Código e dos Veículos Publicitários pelas Obras de Arte. Rio de Janeiro: XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, 2009.

http://entrelinhas.livejournal.com/2007/02/15/

– Documentário sobre Jenny Holzer, gravado no Rio de Janeiro, em 1999. Dirigido por Marcello Dantas (assistido em 04/02/2013):

* http://www.youtube.com/watch?v=ReNfFaCHZM0 (parte 1)

* http://www.youtube.com/watch?v=Prrad2nfeLM (parte 2)

* http://www.youtube.com/watch?v=ETHSeBVWq_Y (parte 3)

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